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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Os Princípios do Reino: Parte 2 – Fome e Fartura

Nestas últimas semanas, o mundo todo tem acompanhado as informações (e distorções) com respeito à guerra entre Israel e o Hamas.


De minha parte, entendo o direito de Israel de se defender e fico chocado com as distorções que a mídia tem apresentado com frequência. No entanto, uma de minhas orações é por misericórdia quanto à população que reside em Gaza. Não importa a impiedade de seus governantes, uma população que fica exposta a bombardeios, com limitações de recursos básicos como água, energia e até mesmo comida é digna de nossa piedade. De modo geral, não conhecemos a fome. Eu, por exemplo, já passei por períodos de escassez, mas nunca passei fome. Fome é muito mais do que ter poucas opções para comer. No dicionário Michaelis, fome é definida como “estado de fragilidade provocado pela falta prolongada de alimento; carência alimentar; desnutrição, subalimentação, subnutrição”. A fome ainda é um problema no mundo hoje. No entanto, ela já foi a causa de extermínio de populações inteiras. Quem conheceu alguém que viveu a escassez típica de uma guerra sabe que fome – não se ter nada para comer – deixa marcas profundas numa pessoa.

Em meu último artigo (Os Princípios do Reino: Parte 1 – Pobreza e Riqueza), descrevi como o sermão do monte (Lucas 6) é reconhecido como os princípios de vida do reino de Deus. Especialmente o texto conhecido como as bem-aventuranças (Lucas 6.17-26). Conforme expliquei, nesse discurso Jesus estabelece quatro contrastes: pobreza versus riqueza, fome versus fartura, choro versus riso e rejeição versus aceitação. Hoje quero falar do contraste fome versus fartura.

Também aqui identificamos o estilo comum da poesia hebraica por meio de dois termos que se opõe. Por um lado, um que abençoa e, por outro, um que amaldiçoa. Veja abaixo nos versículos 21 e 25:

“Bem-aventurados vocês que agora têm fome, pois serão satisfeitos.”

“Ai de vocês que agora têm fartura, porque passarão fome.”

É importante observar que na passagem paralela de Mateus (Mateus 5.1-12), a expressão apresentada é “fome e sede de justiça”. Creio que isso torna mais amplo e profundo o ensino de Jesus. Quem tem fome entende que lhe falta alguma coisa importante. Fome, nesse sentido, é um reconhecimento de incompletude. Quem está satisfeito, não entende que precisa de algo. Pode até comer mais, mas como gula. É justamente nesse sentido que a fome é abençoada, pois existem muitos homens e mulheres que entendem que não precisam de mais nada, já têm tudo que precisam. Quem já tem tudo, não precisa de nada, nem de salvação. 

Quem tem fome entende que lhe falta alguma coisa importante. Fome, nesse sentido, é um reconhecimento de incompletude.

Um elemento fundamental da conversão é justamente a fome ou reconhecimento de carência. Jesus trata diretamente desse caso em sua repreensão à igreja em Laodiceia. Em Apocalipse 3.17-19 lemos:

“Você diz: ‘Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada’. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e que está nu. Dou este conselho: Compre de mim ouro refinado no fogo, e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar. ‘Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se.’”

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Assim como Laodiceia, muitos cristãos vivem como se de fato não precisassem desesperadamente de Deus. São pessoas que, tendo passado por um momento de conversão, a partir dali têm colocado sua segurança em posses, carreiras, habilidades, e assim por diante. Com isso, a pessoa de Jesus é apenas uma crença conveniente, um vínculo que acrescenta a tudo que estes já têm. Vivem uma vida superficialmente moral, se dedicam minimamente à igreja, mas, em seu dia a dia, funcionam como incrédulos. Tomam decisões sem consultar a Deus, justificam comportamentos e crenças ímpias nas regras do mundo e apresentam resultados como se estes justificassem seus pecados. A palavra de Jesus para estes é: arrependam-se! Ou seja: mudem sua mente, mudem a direção de suas vidas. Isso que lhes parece satisfazer é enganoso. 

A benção de Jesus é para aqueles que, tendo analisado seu viver, entendem que apenas Jesus pode satisfazer nossa fome.

Isso não significa que, como cristãos, não vamos encontrar nossas vidas satisfeitas em Cristo. Paulo expressa essa mudança quando escreve que tudo aquilo que para ele era motivo de orgulho e satisfação, comparado com Cristo era lixo (Filipenses 3). O que ele achava que satisfaria sua alma, se tornou nada para ele, que agora queria ser encontrado em Cristo. Nesse sentido, a benção de Jesus é para aqueles que, tendo analisado seu viver, entendem que apenas Jesus pode satisfazer nossa fome.

Minha oração é que eu e você continuemos experimentando mais e mais fome de Deus e, quanto mais nós o conhecermos, mais desejemos estar com ele, ouvir sua voz e agradá-lo com nosso viver.

Nota

  1.  “Fome”, Michaelis. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/fome.

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