Nestes dias muitos estão comentando seus planos para o próximo ano, seja uma dieta, seja um novo emprego, um novo relacionamento etc. Embora as resoluções de ano novo estejam um pouco fora de moda, existe um ar de esperança para o ano que logo se inicia. Todos sabemos que isso não faz sentido, que na verdade é apenas uma data arbitrariamente estabelecida, mas continuamos com pelo menos uma ponta de esperança de que tudo vai melhorar no ano que vem... Parece que é natural ao ser humano esta ponta de esperança. Fomos feitos para algo maior, para algo melhor, assim, ficamos esperando este algo melhor chegar.
Eu creio que esta é uma característica que nos foi dada pelo próprio Deus. Pense comigo, a história da humanidade começa no capítulo 1, verso 27 de Gênesis: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”; no entanto, a história recomeça no capítulo 3, versos 20 e 21, quando Deus mesmo prepara vestimentas para Adão e Eva. Logo a seguir temos a humanidade se tornando tão perversa que Deus a destrói, não sem antes recomeçar com Noé (Gênesis 6–9). O capítulo 11 relata sobre a torre de Babel com a arrogância humana, mas o capítulo 12 nos aponta o surgimento do povo de Israel e a promessa do Redentor.
E o ciclo não termina aí. A história de Israel poderia ser resumida assim: “Os israelitas se afastaram de Deus e fizeram o que ele condena. Deus enviou um povo perverso para discipliná-los. Eles clamaram por misericórdia e Deus ofereceu misericórdia”. Os relatos se multiplicam com o homem se rebelando e caminhando para destruição e com Deus oferecendo um recomeço.
Talvez uma das histórias que melhor ilustra essa característica de Deus é a parábola do filho pródigo ou parábola dos dois filhos. O texto de Lucas 15.11-32 é bem conhecido. Um dos filhos pede sua herança (o que em si já era uma ofensa ao pai). Recebendo sua parte, ele desperdiça tudo vivendo de forma corrupta. Contudo, cai em si e retorna pedindo apenas uma posição subalterna na fazenda do pai. Mas o Pai o surpreende (assim como a todos os ouvintes originais) correndo, abraçando e recebendo este filho com todo amor. Repare nas palavras que o pai diz a seus servos para justificar a festa: “Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado” (Lucas 15.24).
Os relatos se multiplicam com o homem se rebelando e caminhando para destruição e com Deus oferecendo um recomeço.
Aqui começa uma nova vida. Este é mais um recomeço divino. Você percebe o eco destas palavras na passagem de Paulo? “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2Coríntios 5.17). O que passou já foi pago. Agora algo novo começa.
Infelizmente a história dos filhos continua e lemos que o filho mais velho se recusa a participar da festa; ao invés disso, confronta o próprio pai afirmando que este é injusto, pois ele merecia muito mais uma festa que o seu irmão mais novo. Sem entender o princípio do recomeço, ele fica agarrado ao seu histórico até ali. Mais uma vez o pai explica como ele está vendo a situação: “Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado” (Lucas 15.32).
Enquanto um dos filhos demonstra a alegria do recomeço, o outro fica preso às amarguras de sua vida até então. Nosso Deus está sempre aberto a recomeços, mas nós precisamos aceitar este recomeço. Talvez o mais difícil para aceitarmos o renovo é que nossas conquistas passadas deixam de ter valor. Para o filho mais velho aceitar o recomeço que o pai propunha, ele precisava deixar de lado sua vida de fidelidade como um trunfo, como uma moeda para comprar o favor do pai. O que acumulamos em uma vida longe de Deus não tem nenhum valor para nossa vida com Deus. Nós precisamos abrir mão de nosso passado e nossas conquistas para termos um recomeço verdadeiro.
Nosso Deus é um Deus de recomeços. Ele se mostra sempre disposto a perdoar, a recomeçar. Não sei o que precisa de recomeço em sua vida. Talvez seja um relacionamento que “azedou” e você não sabe como restaurá-lo, talvez seja sua família que parece que não tem mais jeito. Quem sabe é algum pecado repetido, com o qual já luta há tanto tempo que você nem mesmo acredita em suas promessas de mudança. Não importa... Deus te aguarda seja para um primeiro recomeço, seja para o “enésimo” recomeço. Seu amor, sua alegria é sempre como se fosse a primeira vez. Seja neste dia 1º de janeiro, seja em qualquer outra data: minha oração é que você e eu possamos caminhar em novos recomeços, cada vez mais próximos do Senhor.
Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.
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